19.6.05

Entrevista com Santo Antônio - por Lisa Ribs, editora da Todafreak


Uma das datas mais apocalípticas para os losers é o Dia dos Namorados. Por motivos óbvios, não vamos explicar essa afirmação. È claro que a Todafreak não ia deixar os seus leitores na mão nesse dia, então fui fazer uma entrevista especial e exclusiva com Santo Antônio, aquele que, teoricamente, deveria nos dar um empurrãozinho (ou um empurrãozão, dependendo do caso) nesse momento tão difícil.
Agora você deve estar se perguntando: “Mas o dia dos namorados não passou?”. Sim, passou. Mas não se esqueça de que essa revista é um veículo loser como você, por isso, eu não consegui fazer a matéria a tempo. Tudo porque, em junho, Santo Antônio fica super requisitado, sobrecarregado de pedidos, então as linhas de contato com o céu estavam sempre ocupadas! Passei dias e noites tentando ligar para o velho (com todo respeito) e nada de conseguir falar. Depois de muita insistência, ele me atendeu e vocês vão conferir em primeira mão o resultado do nosso bate-papo:

- Oi, Santo Antônio, até que enfim consegui falar com o senhor...

- Aaaaah, não, você de novo?! Olha aqui filha, você já me prendeu no freezer de cabeça para baixo, fez simpatia da fita, mandinga da vela, arrancou o menino Jesus do meu colo, eu não agüento mais receber pedido seu! Você tem que aprender a esperar...

- Não, não é isso seu Antônio...

- Eu só dou uma ajuda, não aprendi a fazer milagre ainda!

- Dessa vez eu não vim fazer nenhum pedido pessoal pro senhor não. É que eu escrevo para uma revista, a Todafreak, e nossos leitores ficariam muito felizes se o senhor pudesse responder a umas perguntinhas.

- Ah, moça, mas tem que ser agora? Tô cheio de trabalho aqui, você não imagina a confusão que fica essa época...

- É, eu sei. Mas vai ser rapidinho, Santo Antônio, só quero entender porque tem tanta gente que não consegue um amor...

- Xiiiii, filha, isso daí não é problema do meu departamento não. É que o Cupido, de tanto repetir o movimento de atirar flechas, acabou ficando com LER. Aí já viu, né?! O coitado não consegue mexer o braço direito, deveria se retirar pra tratamento, mas você sabe como é serviço público. Até que se abra um concurso pra substituto, passe pela aprovação divina, demora meses. Lembrando que o tempo de Deus não é o tempo dos homens, então isso dá no tempo de vocês... Deixa eu ver... Multiplica por sete, soma treze, divide por 10, noves fora... Uns 67 anos.

- O quêêêêê?! Sessenta e sete anos para arrumarem um novo Cupido?!

- É, por aí. Enquanto isso, o coitado trabalha com dificuldades, erra um monte de alvo, por isso que tem tanta gente se apaixonando e não é correspondido. Aí, querida, o santinho aqui não pode fazer nada, meu trabalho é em conjunto com o do Cupido, se ele faz as pessoas se apaixonarem por quem não devem, eu não posso uni-las.

- Poxa, que problemão! Então fazer simpatias não adianta nada, né?!

- Na verdade, quando alguém faz uma simpatia, se tudo estiver dentro dos trâmites legais de Nosso Senhor, o número do protocolo do pedido é adiantado em cinqüenta unidades. Por exemplo, o protocolo da srta. é o 35.725.650/BR, então quando você fez aquela simpatia da vela, por exemplo, seu protocolo se tornou o 35.725.600/BR, entendeu? Só que com esses problemas, há muitas pessoas na fila, então o processo fica mais lento.

- Huuummm... Mas, assim, aproveitando que eu estou aqui, o senhor pode me responder quantas pessoas são atendidas por dia? Sei lá, só pra saber se meu pedido sai ainda esse ano...

- ...

- Santo Antônio?... Ô Santo Antônio?...Alô? Alguém aí?... É, acho que ele me deixou no vácuo mais uma vez.


15.6.05

Terra de Gigantes - por ZERO

(Texto imprevisível criado ao sabor das ondas sonoras de “The Headmaster Ritual” aquela dos Smiths, aquela antiga banda do Morrissey, meu querido loser)

Loser-Freak. Nerd. Java-Junkie. Adjetivos comuns para quem se sente diferente mesmo sendo mais um rostão no meio do público. Mas, imagine que além de todos esses “atributos” você seja um baixinho – isso mesmo, “tampinha“,“pintor de rodapé“,“salva-vidas de aquário“, todos esses adjetivos destinados a você, meu querido anão_loser_freak!

Não reclame se, por uma questão puramente determinante, os genes que você não esperava receber resolveram se manifestar em você. Loser-freaks não se questionam, se aceitam. VOCÊ É BAIXINHO E PRONTO. Nem falo de carma porque sou um loser-freak-ateu, e neste caso não há uma explicação espiritual, sou baixinho e foda-se, sou azarado! Podia ser pior (síndrome de Pollyana baixando neste corpitcho) você podia ser baixinho e feio, eu pelo menos sou engraçadinho!

Ser baixinho tem suas implicações (e algum ingrediente de emoção). As calças sempre precisam ser encurtadas ou ajustadas. As lojas partem do pressuposto de que todo mundo já nasceu destinado a ter 1,80m e a cara do Thiago Lacerda – nem sei por que coloquei esse cara como exemplo, mas talvez porque ele tenha cara de “winner_cool”. E a maldita camiseta que você tanto procurou? Quando você encontra não tem tamanho M, só G ou GG, conclui-se portanto que além de baixinho você deveria ser um Vandame, 1,65 de altura por 3 de largura.

Escola, ah, a maldita escola! anão_loser_freak sempre é o primeiro da fila, o mais engraçadinho, bobinho, quietinho, tudo em “inho” porque faz parte da condição baixINHO. Educação física para baixinhos tem um sabor todo especial, baixinhos sempre são os últimos a serem escolhidos e têm a tarefa ingrata de ser goleiro – o que não deixa de ser uma contradição, chutes altos são uma barreira intransponível para baixinhos.

Tudo isso, fora as brigas na escola, sua personalidade é moldada por aquilo que aprontam com você – baixinhos-loser-freaks precisam aprender desde cedo (eu já falo da época do jardim) a se defender das humilhações impostas pelos winners-cool que se consideram fodões desde o berçário e que acham que o mundo gira em torno deles, minando possíveis amizades e fazendo a lei do mais forte, afinal escola não deixa de ser uma seleção natural.   
    Se você terminou o colegial com mais ou menos 40% de sua auto-estima, pode se considerar um vencedor (mesmo sendo loser).

Relacionamentos, ah, os benditos relacionamentos. Algum fator biológico deve fazer as mulheres preferirem os altos “winners_cool” – genética, a teoria de que um macho maior vai ter filhos mais saudáveis, baixinhos seriam o lixo genético, a probabilidade indesejada que deu certo (ou errado, ponto de vista), mesmo com as milhares de combinações do DNA – mulheres baixinhas, em sua maioria, tendem a gostar de caras altos, e pode acreditar, meu amigo, se uma baixinha der bola pra você, ela é quase tão loser-freak quanto você! Resta a você, caro gnomo, mostrar que há inteligência nesses seus 1,65 mal distribuídos, e tacar aquela cantada que você sempre teve coragem de dizer e esperar que o amor, cacho, cara-metade da sua vida não venha responder com um “NÃO” que provavelmente significa “não fico com você nem fodendo” (frase com duplo sentido, mas deixa pra lá). Aconselho japinhas, pois são baixinhas e lindas, lindas, lindas...Ops! Voltando ao texto...

Em resumo, meu querido anão, o que resta é levantar a cabeça, calçar os sapatos, estufar o peito e sair à rua, mesmo que pisem em você, loser que é loser se estrepa mas ri da desgraça! Ah, e não esqueça do seu banquinho!